Mágica e fenômenos parapsíquicos
Qual a relação entre a mágica e os fenômenos parapsíquicos (também chamados de paranormais, extrassensoriais ou do sexto sentido)? Em que a mágica pode contribuir nesse campo? Ainda que não goste de ilusionismo ou similares, veja uma breve introdução do assunto e posteriormente uma análise sucinta em relação aos fenômenos da consciência.
O
que é mentalismo?
Desde
muito novo sempre tive interesse pela mágica e ilusionismo em geral. O que me
intrigava era saber como podiam realizar o “impossível”. Essa chama foi acesa
principalmente com David Blaine e sua mágica de rua (street magic) feita
especialmente com baralho. Tempos depois surgiu a figura do “Mr. M” invertendo
a lógica e revelando grandes truques dos palcos.
Foi
apenas anos depois que veio o insight de que esse passatempo poderia
agregar algo de construtivo. Depois de muito assistir aos programas do “Mr. M”
percebi que começava a descobrir certos truques e seus mecanismos de
funcionamento antes mesmo da revelação. Ou seja, o senso crítico vai aumentando
pela expansão do raciocínio lógico de como algo aparentemente insolúvel pode
ser realizado.
Quanto
ao raciocínio lógico, por exemplo, um mágico raramente consegue enganar outro
mágico. O que sabem e a forma como pensam faz com que descubram os
truques alheios mais facilmente. Ou seja, uma qualidade de quem entende de mágica
é ter mais criticidade para avaliar a validade dos fenômenos
parapsíquicos. Na mágica são os detalhes que fazem toda a diferença, por
isso fica mais fácil analisar quando se trata de um fenômeno real ou mero
espetáculo de prestidigitação.
Afinal,
o que é prestidigitação? A definição de prestidigitação é o conjunto de
técnicas utilizadas pelos ilusionistas para manipulação de objetos. Ou seja, o
termo é praticamente um sinônimo de ilusionismo. Já a expressão mentalismo é
mágica voltada para a performance de supostos fenômenos parapsíquicos onde são realizadas
leituras mentais, telecinesia, clarividências e assim por diante.
Portanto,
o mentalista se passa por parapsíquico autêntico quando é, na verdade, um
embusteiro. Muitos mágicos de palco ao longo da história afirmaram ser autênticos até o leito de morte, como é o caso de Irving Bishop. Os sensitivos de palco acabaram prejudicando
indiretamente a aceitação dos fenômenos parapsíquicos reais e genuínos já que
muitos tratam tudo como mera enganação.
Quem foi Irving
Bishop?
Com
pouco mais de trinta anos, em 1889, um jovem queria provar ao público de modo
definitivo sua capacidade de leitura da mente. Já havia rodado a Europa
se exibindo com incríveis atuações e performances e era sempre ovacionado. Uma
vez, por exemplo, com a cabeça vendada, conseguiu localizar um soberano de ouro
que fora escondido pelo príncipe de Gales na meia de seda da duquesa de Kent.
Mesmo
vendado Bishop conseguia encontrar todo e qualquer objeto escondido por alguém.
Fazia um número chamado “teste vendado na carruagem” para achar o que alguém escondera
na cidade. Em sua última apresentação, o secretário do clube onde se
apresentava foi seu voluntário e Bishop pediu para que ele concentrasse o
pensamento num livro presente no local. Bishop agarrou o secretário pelo braço
e vendado foi andando e trombando pelo edifício. Logo após localizou o livro
que o mesmo pensara.
Ao terminar a performance, arrancou a venda e caiu exausto devido ao esforço energético
usado para as leituras mentais. Ficou inconsciente por muitas horas e foi
declarado morto. O jovem sofria de catalepsia e em outras duas situações também tinha sido declarado morto. Quando sua mãe chegou era tarde demais e alguns
médicos de nova York já haviam feito a autópsia do cérebro de Bishop para
entender os segredos de suas capacidades mentais.
No
entanto, Bishop era um mentalizador. Graças aos aprendizados passados por outro
ilusionista chamado J. Randall Brown, ele dominou uma técnica chamada “leitura
muscular”. Todo o segredo de Bishop consistia na pessoa que ele segurava o
braço ou o pulso enquanto andava por um lugar. Com o domínio da prática o
mentalista aprendeu a discernir pequenos movimentos inconscientes da pessoa que
o guiava a ponto de saber se estava na direção certa ou errada. Se, por exemplo,
por uma fração de segundos, percebesse um mínimo de resistência no braço sabia
que estava na direção errada e assim por diante.
Portanto,
quem domina essa arte inexata e muito difícil (que envolve indicadores complexos
fornecidos por voluntários inocentes), pode localizar um objeto escondido desde
que mantenha o contato com uma pessoa que saiba onde o objeto está escondido. E assim
Bishop seguiu até o fim da vida afirmando ser autêntico enquanto críticos o
acusavam de ser mero ilusionista. Depois de sua morte surgiram outros mentalistas capazes
de utilizar a mesma técnica mais sem o mesmo talento teatral de Bishop.
Caso
do Sai Baba e a materialização de ouro.
Um
exemplo não muito difundido sobre os falsos parapsíquicos foi o caso do guru
indiano, e mundialmente famoso, Sai Baba. Ele se dizia capaz de materializar
joias e ouro além de outras coisas. Uma cena que chamou a atenção internacional
foi quando sua energia ectoplásmica supostamente sairia de sua boca para
materializar um ovo de ouro maciço! Ele fazia um gesto para a multidão e cuspia
esse ovo em um lenço. Quando vi a cena pela primeira vez fiquei impactado.
Analisando
a questão, ele seria um ectoplasta e energizador único por materializar um
objeto grande e maciço de ouro. Entretanto, para quem está acostumado com
certas análises mágicas, ficava evidente a questão de fraude. A própria BBC que
filmou o evento teve a mesma suspeita e posicionando uma câmera em local
estratégico conseguiu um flagra do truque. Isso mesmo, tudo não passava de encenação. O ovo esteve sempre ali escondido no lenço e as imagens não deixam
dúvidas quanto a fraude. Veja as imagens no vídeo abaixo no minuto 6:50 mostrando que nenhum ovo sai de sua boca:
Além
dessa fraude, Sai Baba foi pego em outros truques e mistificações. Se as
pessoas que o acompanhavam tivessem uma consciência crítica seriam capazes de
questionar tudo o que acontecia e não seria difícil de deduzir o que realmente
se passava. No entanto, o pior cego continua sendo aquele que não quer ver.
Mesmo sob várias comprovações de fraude Sai Baba não deixava de ser um caso
peculiar. Apesar de nunca tê-lo visto pessoalmente, conheci uma pessoa que viu
um pequeno diamante “materializado” por ele e dado de presente a uma pequena
líder religiosa brasileira. Seria Sai Baba um rico querendo prestígio de santidade?
Outro
ponto interessante é a questão atual do famoso Uri Geller que na década de
oitenta impressionou o mundo ao entortar talheres e parar relógios em todos os
cantos e de todas as formas. Os relatos sobre Geller é que
atualmente ele não passa de um mero prestidigitador. Uma hipótese a ser
considerada é de que entrou nos casos de parapsíquicos genuínos que perderam
suas habilidades com o passar do tempo (isso se não foram fraudes desde o
início, obviamente). Teria Uri Geller perdido suas capacidades energéticas?
Nesse
campo, uma figura que deve ser lembrada apesar de muita controvérsia e do seu
materialismo irremediável é o mágico James Randi. Ele ficou famoso por desafiar
parapsíquicos do mundo todo a comprovarem seus feitos e ganhar um prêmio de um
milhão de dólares. Mesmo afirmando que não existe nada além da matéria, Randi
foi muito bem sucedido em desmascarar mentalistas que enganaram multidões
por suas fraudes. Foi um mágico que teve um lado positivo por combater os
parapsíquicos de fachada e mal intencionados. Outro exemplo é Harry Houdini que foi um dos maiores mágicos de todos os tempos e provavelmente o anti-espírita mais fervoroso de sua geração.
Pessoalmente
falando, nunca utilizei de mágica ou de qualquer recurso no sentido do
parapsiquismo e tenho repulsa de indivíduos que fazem esse tipo de falcatrua.
As poucas vezes que usei mágica (uso de baralho) foi para familiares ou
esporadicamente para alunos em dias de frio e chuva. Aliás, o que nunca me agradou
nessa área é justamente o desconforto pelo ilusionismo e certo nervoso por
achar que o truque será descoberto. Mesmo fazendo parte do entretenimento, a
mágica é um processo de enganação perante seus ouvintes.
Saber
desvendar os truques é fundamental para o sensitivo mais experiente não cair na
lábia de meros prestidigitadores que se passam por legítimos. Sem contar os casos
de pessoas destrambelhadas e malucas que não sabem o que fazem. Já li alguns
relatos de pessoas fraudulentas que entram no meio de indivíduos
e grupos sérios e comprometidos apenas para se passar por um santo em meio aos demais.
É preciso sempre estar atento a natureza humana capaz de aprontar todo tipo de
enganações.
Portanto,
usar da mágica para aumentar o senso crítico favorece amplamente as análises fenomênicas a ponto de saber distinguir o real do ilusório, o incrível do
mentiroso. Não ser iludido é ponto fundamental da evolução de quem busca a
interdependência sadia sem ser doutrinado ou mesmo lavado cerebralmente. Muitos
líderes usam artifícios de modo consciente ou inconsciente para seduzir e
manipular no intuito de conseguir mais fiéis e seguidores. Buscar ser guru por
meio de atitudes fraudulentas é um terrível tipo de corrupção do caráter.
Este texto traz
apenas informações básicas.
Estude! Se aprofunde
mais no assunto!
E não acredite em
nada. Experimente!
Por Alexandre
Pereira.
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