A glamorização do fracasso
Quem é campeão na vida? Nem sempre o mais forte ou o mais rápido vive uma existência plena. Qual o recado dos esportes para quem se vê fracassado por não chegar ao topo?
Em tempos de competições esportivas
ocorre um “fenômeno” pouco observado em nosso cotidiano: a glamorização do
fracasso. Mas essa condição não é algo patológico ou pejorativo. Nada disso. A
valorização de quem perde ou não termina como um dos melhores em uma competição
é um excelente exemplo de como podemos ver a vida sob a perspectiva da
autossuperação.
Nos jogos olímpicos, por exemplo, é comum
a visão de atletas que choram e se emocionam, por exemplo, ao ganhar uma
medalha de bronze. O expectador mais desatento pode se perguntar qual a razão
de tamanha felicidade sendo que nem foi o campeão. Nesse caso, qualquer medalha
importa pela sua enorme importância histórica. Todos almejam a premiação de
ouro, mas as outras medalhas também são muito valorizadas.
Nesse contexto podemos nos perguntar:
quem perde uma competição é fracassado? A resposta depende do ângulo de quem
observa e de seus valores pessoais, pois um competidor que se esforçou sozinho,
com quase nenhum apoio ou patrocínio, que fez inúmeras renúncias, que superou
diversas adversidades, entre outros pontos, é um vencedor só de participar da
Olimpíada ou de campeonato mundial. O mérito, infelizmente, nem sempre vem
acompanhado de premiação.
Essa essência olímpica de aplaudir os
últimos colocados e todos que não tiveram a oportunidade de serem vitoriosos é
uma lição a ser levada para nossa vida cotidiana e para todas as pequenas
superações que realizamos. Quem segue uma vida digna com enorme determinação, com
esforço, com atitudes nobres e corretas tem muita importância perante a
sociedade ainda que de forma anônima. Nós, os dignos e “perdedores” sem
medalhas, somos os heróis disfarçados de pessoas comuns.
É importante não confundir sucesso com
reconhecimento, pois nem sempre quem está fazendo o correto possui a aprovação
ou prestígio dos demais. Nem todo vencedor é de fato alguém que merece aplauso
social, assim como ressaltou Shakespeare há quase quinhentos anos quando disse:
Uns venceram por seus crimes, outros fracassaram por suas virtudes. Aliás, em
boa parte das áreas humanas é preciso se corromper e corromper os demais para
chegar ao “topo”, seja lá o que isso signifique.
Lembre-se que ser
desconhecido não significa ser inferior aos famosos. A glamorização do esforço
é o maior prêmio de uma vida pautada pela integridade. O verdadeiro campeão da
vida não é quem levou seu corpo ao limite do esporte, mas é, na verdade, do ser
que elevou seus atos ao ponto de ter mérito. No âmbito esportivo esperemos que
os torcedores aprendam a valorizar os participantes independente do resultado
obtido. Que na vida e no esporte e sejamos aos poucos inundados pelo sentimento
de que não existem fracassados, mas apenas não vitoriosos.
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